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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

OS ANARQUISTAS NA REVOLUÇÃO RUSSA

A Revolução Russa de 1917 viu um grande crescimento do anarquismo nesse país assim como muitos experimentos baseados nas idéias anarquistas. Não obstante, a cultura popular viu a Revolução Russa não como um movimento de massas, de gente comum lutando por sua liberdade, mas como o meio pelo qual Lenin impôs sua ditadura na Rússia. A Revolução Russa, da mesma forma que a maior parte da historia, é um bom exemplo do jargão "a historia é escrita pelos vencedores". Ambas as historias, a capitalista e a leninista, do período entre 1917 e 1921 ignoram aquilo que o anarquista Voline chamou de "a revolução desconhecida", a revolução que surge de baixo para cima pelas ações do povo.
A derrubada inicial do Czar ocorreu devido à ação direta das massas, a revolução alcançou tal ímpeto que o novo estado "socialista" não foi suficientemente forte para detê-la. Para as esquerdas, o fim do czarismo foi o ponto culminante de anos de esforços de socialistas e de anarquistas em todo o mundo, representando a ala progressista do pensamento humano vencendo a tradicional opressão. A queda do Czar foi celebrada pelas esquerdas em todo o mundo.
Nas ruas, postos de trabalho e no campo, mais e mais gente se convencia de que a abolição do feudalismo não era politicamente suficiente. A derrubada do Czar teria um efeito real muito pequeno se a exploração feudal continuasse na economia, assim, os trabalhadores começaram a tomar os postos de trabalho e os camponeses a tomar a terra. Através da Rússia, o povo comum começou a construir suas próprias organizações, sindicatos, cooperativas, comitês de fábrica e conselhos (ou "soviets" em russo). Estas organizações originalmente se formaram de maneira anarquista, com 
delegados revogáveis e federados uns com os outros.
Os anarquistas participaram neste movimento, adotando todas as tendencias da autogestão. Segundo observou Jacques Sadoul (oficial francês) no começo de 1918, "O partido anarquista é o mais ativo, o mais militante de todos os grupos de oposição e provavelmente o  mais popular ... Os bolcheviques estão preocupados" [ citado por Daniel Guerin, Anarquismo, pp.95-96]. Os anarquistas foram particularmente ativos no movimento de produção autogestionária dos trabalhadores (ver M. Brinton, The Bolsheviks and Worker's Control).
Todavia, ainda no começo de 1918, os socialistas autoritários do partido bolchevique, uma vez no poder, iniciaram a eliminação física de seus rivais anarquistas. Inicialmente, os anarquistas apoiaram aos bolcheviques, posto que os líderes bolcheviques ocultaram sua ideologia de estado ao apoiarem os sovietes.
Não obstante, este apoio "se dissolveu" rapidamente a medida que os bolcheviques se mostraram como eram na realidade, ou seja, não buscavam o verdadeiro socialismo, procuravam assegurar e garantir o poder para si próprios, não mais buscavam a propriedade coletiva da terra e dos meios de produção mas a propriedade do governo. Por exemplo, os bolcheviques destruíram sistematicamente o movimento de controle operário quando os estes triunfavam aumentando a produção mesmo sob as mais difíceis circunstancias.
Lenin suprimiu o controle dos trabalhadores baseando-se na duvidosa premissa de que isso reduzia a produtividade, argumento que depois se revelou falso nos casos onde o controle dos trabalhadores se estabeleceu. (ver Seção C.2.3). É interessante notar que os apologistas do capitalismo de hoje, muitas vezes argumentam que o controle por parte dos trabalhadores reduziria a produtividade, usando um argumento leninista já desacreditado.
Enquanto destruíam o movimento de autogestão dos trabalhadores, os bolcheviques 
sistematicamente minaram, aprisionaram, e assassinaram seus maiores opositores, os anarquistas, assim como limitaram a liberdade das massas que diziam proteger. Os sindicatos independentes, os partidos políticos, o direito de greve, a autogestão no trabalho e no campo -- tudo foi destruído em nome do "socialismo". Para os de dentro, a revolução havia morrido poucos meses depois que os bolcheviques tomaram o poder. Para o mundo externo, os bolcheviques e a URSS representavam o "socialismo" enquanto sistematicamente destruíam as bases do verdadeiro socialismo. Os bolcheviques pisotearam os elementos socialistas libertários dentro de seu país, os esmagamentos dos levantes de Kronstadt e da Ukrania foram a pá de cal na cova do socialismo e da autodeterminação dos sovietes..
O levante do Kronstadt em fevereiro de 1921 foi de imensa importância para os anarquistas. O primeiro grande levante do povo pelo verdadeiro socialismo. "Kronstadt foi a primeira tentativa totalmente independente do povo para livrar-se de todo controle e levar a cabo a revolução social: e essa tentativa se fez diretamente ... pela classe trabalhadora, sem pastores, sem políticos, sem líderes, sem tutures" [Voline, The Unknown Revolution, citado por Guerin, Ibid., p.105].
Na Ukrania, as idéias anarquistas se aplicaram com êxito. Nas áreas sob a proteção do movimento Makhnovista, as pessoas da classe trabalhadora organizavam suas vidas diretamente, baseando-se em suas próprias idéias e necessidades, a verdadeira autodeterminação social. Sob a liderança de Nestor Makhno, um camponês autodidata, o movimento não apenas lutou contra as ditaduras branca e vermelha mas também resistiu aos nacionalistas ukranianos.
Opondo-se à convocatória para a "autodeterminação nacional", ou seja, um novo estado ukraniano, Makhno fez uma chamada à autodeterminação da classe trabalhadora na Ukrania e no mundo inteiro. Chegou a ser conhecido como o "Robin Hood" da Ukrania. A experiência da autogestão anarquista na Ukrania teve um final sangrento quando os bolcheviques se voltaram contra os makhnovistas (seus antigos aliados contra os "brancos" pro-czaristas) quando não necessitavam mais deles.
O último desfile anarquista em Moscou antes de 1987 teve lugar com o funeral de Kropotkin em 1921, quando aproximadamente 10 mil pessoas acompanharam seu ataúde. Muitas deles haviam sido colocados em liberdade nesse dia, e seriam assassinados pelos leninistas nos anos seguintes. A partir de 1921, os anarquistas começaram a descrever a URSS como uma nação "estadista-capitalista" para indicar que embora os patrões anteriores houvessem sido eliminados, surgiram outros, a burocracia estatal soviética passou a exercer o mesmo papel que os chefes exercem no Ocidente.
Para mais informação sobre a Revolução Russa e o papel que os anarquistas jogaram, são recomendados os seguintes livros: The Unknown Revolution de Voline, The Guillotine at Work de G.P. Maximov, The Bolshevik Myth y The Russian Tragedy ambos de Alexander Berkman, The Bolsheviks and Worker's Controls de M. Brinton, The Kronstadt Uprising de Ida Mett, History of the Makhnovist Movement de Peter Ashinov. Muitos destes livros foram escritos por anarquistas ativos durante a revolução, muitos foram encarcerados pelos bolcheviques e deportados para o ocidente devido à pressão internacional exercida por delegados anarco-sindicalistas em Moscou que os bolcheviques tratavam de converter ao leninismo. A maioria destes delegados permaneceram fieis a seus ideais libertários e convenceram seus respectivos 
sindicatos a repudiar o bolchevismo e romper com Moscou. Já no princípio dos anos 20 todas as confederações anarco-sindicalistas se uniram aos anarquistas em seu repúdio ao "socialismo" da Rússia como capitalismo de estado e ditadura do partido.

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