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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Anarquismo em ação

O anarquismo mais do que qualquer outra teoria trata dos esforços de milhões de revolucionarios que tem mudado o mundo durante os últimos séculos. Discutiremos aqui alguns dos momentos mais célebres do movimento, todos eles de natureza profundamente anti-capitalista.
O anarquismo trata de mudar o mundo radicalmente, não simplesmente fazer o presente sistema menos inumano, por meio do fomento das tendências anarquistas existentes. Embora uma revolução puramente anarquista ainda não tenha ocorrido, houveram várias de caráter e níveis de participação elevadamente anarquista. E ainda que todas tenham sido destruídas, em cada caso o foi pelas mãos de forças externas (apoiadas tanto por comunistas como por capitalistas), não devido a problemas internos do anarquismo. Estas revoluções, apesar de não terem sobrevivido frente a forças opressivas, constituem uma inspiração para os anarquistas e são prova de que o anarquismo é uma teoria social viável que pode ser colocada em prática em grande escala.
É importante assinalar que estes exemplos são experimentos sociais de ampla escala e não supõem que ignoremos a corrente oculta da prática anarquista que existe na vida cotidiana, inclusive sob o capitalismo. Piotr Kropotkin (em El Apoyo Mutuo) e Colin Ward (em Anarchy in Action) documentaram as muitas maneiras pelas quais o povo comum, geralmente desconhecendo o anarquismo, trabalham unidos em igualdade para solucionar seus próprios problemas. Como disse Colin Ward, "uma sociedade anarquista, uma sociedade que se organiza sem autoridade, sempre existiu, como a semente sob a neve, enterrada sob o peso do estado e de sua burocracia, do capitalismo e seu desperdício, seus privilégios e suas injustiças, seu nacionalismo e suas lealdades suicidas, suas diferenças religiosas e seu separatismo supersticioso" [Anarchy in Action, p.14].
O anarquismo não trata somente de uma sociedade futura, trata também da luta que ocorre hoje. Não é uma condição mas um processo que criamos com nosso ativismo e nossa auto-libertação.
Todavia, há 60 anos atras, muitos comentaristas desenharam o movimento anarquista como coisa passada. Não somente haviam sido destruídos pelo fascismo os movimentos anarquistas europeus, como também a sua recuperação pós-guerra foi impedida, por um lado, pelo capitalismo ocidental, e por outro pelo oriente leninista. Durante este mesmo período, o anarquismo foi reprimido nos EEUU, América Latina, China, Korea (onde uma revolução social de conteúdo anarquista foi reprimida antes da guerra da Korea) e Japão. Inclusive um ou outro país que escapou do pior da repressão, a combinação da Guerra Fria e o isolamento internacional viram os sindicatos libertários, tais como o SAC da Suecia se converterem em reformistas.
Mas também os anos 60 foram uma década de luta renovada, e por todo o mundo a 'Nova Esquerda voltou seus olhos para o anarquismo, como também em outras direções, buscando suas idéias. Muitas das principais figuras da explosão massiva de maio de 1968 na França se consideravam anarquistas. Mesmo tendo esses movimentos se degenerado, deram lugar a outros que mantiveram o ideal vivo e iniciaram a formação de novos movimentos. A morte de Franco em 1975 deu lugar a um renascimento massivo do anarquismo na Espanha, com mais de 500 mil pessoas assistindo à primeira reunião da CNT pós franquismo. O retorno a uma democracia limitada em alguns países latinoamericanos ao final dos anos 70 e durante os anos 80 permitiu o crescimento do anarquismo ali. Finalmente, no final dos anos 80, foram os anarquistas os que deram os primeiros golpes contra a URRS leninista, tendo lugar em Moscou, em 1987, a primeira manifestação anarquista desde 1928.
Hoje o movimento anarquista, embora ainda frágil, organiza centenas de milhares de revolucionários em muitos países. Espanha, Suécia e Itália tem movimentos libertarios que contam com mais de 250 mil filiados entre eles. Quase todos os demais países europeus tem vários milhares de anarquistas ativos. Grupos anarquistas tem aparecido pela primeira vez em outros países, incluindo Nigéria e Turquia. Na América do Sul o movimento teve uma assombrosa recuperação. Uma página de contatos divulgada pelo grupo venezuelano Correo A lista mais de 100 organizações em quase todos os países.
Possivelmente a recuperação esteja ocorrendo mais lentamente na América do Norte, mas lá também, todas as organizações libertarias estão crescendo notavelmente. Conforme se acelera este crescimento, muitos mais exemplos de anarquia em ação serão criados e mais e mais pessoas tomarão parte em organizações e atividades anarquistas.
Não obstante, é importante assinalar exemplos massivos do anarquismo operando em grande escala para poder evitar as falsas acusações de "utopianismo". Como a historia está escrita pelos vencedores, estes exemplos de anarquia em ação são muitas vezes ocultados em livros obscuros. Raramente se mencionam nas escolas e universidades (ou se mencionam, se desvirtuam). Não é necessário dizer que os poucos exemplos que damos são apenas alguns, há muito mais.
O anarquismo tem uma grande historia em muitos países, e não dá para documentar cada exemplo, apenas os que consideramos mais importantes. Também lamentamos se parecermos eurocentristas. Devido a considerações de tempo e espaço, ignoramos a Alemanha (1919-21), Portugal (1974), a revolução mexicana, os anarquistas da revolução cubana, a luta dos coreanos contra o imperialismo japonês (e depois dos EEUU e da União Soviética) durante e depois da segunda guerra mundial, Hungria (1956), a rebelião nos finais dos anos 60 do "negar-se a trabalhar" (em particular o "verão quente" na Itália, 1969), a greve de mineiros do Reino Unido (1984-85), a luta contra a "Poll Tax" na Gran Bretanha (1988-92), as greves na França em 1986 e 1995, o movimento COBAS da Itália dos anos 80 e 90, e muitas outras grandes lutas nas quais as idéias anarquistas de autogestão anarquista estiveram comprometidas (idéias que geralmente nascem do próprio movimento, sem que os anarquistas joguem necessariamente o papel de "líder"). Para os anarquistas, as revoluções e as lutas populares são "festivais dos oprimidos", quando as pessoas comuns começam a agir por si próprias, a mudar a si mesmas e ao mundo.

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