Na ótica anarquista, a revolução social consistiria na quebra
drástica, rápida e efetiva do Estado e de todas as
estruturas, materiais e não-materiais, que o regiam ou a ele sustentavam. Este
princípio é primordial na diferenciação da vertente de pensamentos libertária
em relação a qualquer outra corrente ideária. É a diferença básica entre o socialismo
libertário e o socialismo
autoritário.
Sob a ótica do marxismo, seria necessária a instrumentalização do Estado para a
prossecução planejada, detalhada e gradativa da revolução, sendo instituída a ditadura do proletariado para o controle
operário dos meios de produção até a eclosão do comunismo. Sob o ideário
anarquista, a revolução deve ser imediata, para não permitir que os elementos
revolucionários possam ser corrompidos pela realidade estatal. De acordo com os
libertários, a ditadura do proletariado nada mais é do que uma ditadura "de fato",
continuando a exercer coerção, opressão e violência sobre a sociedade.
Por isso, segundo os libertários, a revolução social deve ascender o mais
rápido possível à sociedade anarquista, ao comunismo puro, para, através dos
princípios da defesa da revolução, não permitir a ressurreição do Estado.
Por fim, por intermédio do processo de
destruição completa do Estado, sobre todas as suas formas, torna-se plenamente
tangível a liberdade, podendo o sujeito
renovar de forma efetiva os seus princípios e preceitos humanistas.
Humanismo
Nos meios anarquistas, de forma geral,
rejeita-se a hipótese de que o governo ou o Estado sejam necessários ou
mesmo inevitáveis para a sociedade humana. Os grupos humanos seriam
naturalmente capazes de se auto-organizarem de forma igualitária e
não-hierárquica, mediante os progressos originados pela educação libertária. A
presença de hierarquias baseadas na força, ao invés de contribuírem para a
organização social, antes a corrompem, por inibirem essa
capacidade inata de auto-organização e por dar origem à desigualdade.[carece de fontes]
Desta forma, a partir da conscientização, aceitação e
internalização da sua essência humana, ideia suprimida anteriormente pelo
Estado, segundo os anarquistas, emerge naturalmente na sociedade humana o
anseio pela ascensão da ideia-base de qualquer forma de vida real: a Liberdade.
Liberdade
A Liberdade é a base incontestável de
qualquer pensamento, formulação ou ação anarquista, representando o elo sublime
que conjuga de forma plena todos os anarquistas. Assim, entre os anarquistas, a
Liberdade deixa apenas o plano abstracional (do pensamento) para ganhar uma
funcionalidade prática, sendo o símbolo e a dinâmica do desenvolvimento humano
real. Em outras palavras, o princípio básico para qualquer pensamento, ação ou
sociedade ser definida como anarquista é que esteja imersa, tanto
abstracionalmente (ideologicamente), quanto pragmaticamente (no âmbito das
ações), no conceito de Liberdade. Liberdade física, de gênero, de pensamento,
de ação, de expressão, de usufruto consciente dos recursos humanos, sociais e
naturais, de negociação e interação, de apoio mútuo, de relacionamento e
vinculação sentimental, de fé e espiritualidade, de produção intelectual e
material e de realização coletiva e pessoal.
Para a encarnação da Liberdade, no entanto, é
necessária a erradicação completa de qualquer forma de autoridade.
Antiautoritarismo
O Antiautoritarismo consiste na repulsa e no
combate total a qualquer tipo de hierarquia imposta ou a qualquer
domínio de uma pessoa sobre a(s) outra(s), defendendo uma organização social
baseada na igualdade e no valor supremo da liberdade. Tem como principais,
mas não únicos, objetivos a supressão do Estado, da acumulação de riqueza própria do capitalismo (exceto os Anarco-capitalistas) e as hierarquias religiosas. O Anarquismo difere
do Marxismo por rejeitar o uso
instrumental do Estado para alcançar seus objetivos e por prever uma Revolução
Social de caráter direto e incisivo, ao contrário da progressão sócio-política
gradual - socialismo - rumo à derrubada do Estado - comunismo - proposta por
Karl Marx.
De acordo com a corrente de pensamentos
libertária, a supressão da autoridade é condicionada pela ação direta de cada
indivíduo livre, prescindindo-se completamente de qualquer intermediário entre
o seu objetivo, enquanto defensor da Liberdade, e a sua vontade. O anarquista
entende que "enquanto
houver autoridade, não haverá liberdade".
]Ação
direta
Os anarquistas afirmam que não se deve
delegar a solução de problemas a terceiros, mas antes, atuar diretamente contra
o problema em questão, ou, de forma mais resumida, "A luta não se delega aos
heróis". Sendo assim, rejeitam meios indiretos de resolução de problemas sociais,
como a mediação por políticos e/ou pelo Estado, em
favor de meios mais diretos como o mutirão, a assembleia(ação
direta que não envolve conflito), a greve, o boicote, a desobediência
civil (ação direta que envolve conflito), e
em situações críticas a sabotagem e outros meios
destrutivos (ação direta violenta).
No entanto, a Ação Direta, por si só, não
garante a manutenção e a perpetuação das condições humanas básicas, tanto em
termos estruturais, quanto no aspecto intelectual, necessitando de uma extensão
operacional ilimitada a fim de fazer da força humana global uma só energia
coletiva. Decerto, somente a solidariedade e o mutualismo máximos podem
promover essa harmonia social.
]Apoio
mútuo
Os anarquistas acreditam que todas as
sociedades, quer sejam humanas ou animais, existem graças à
vantagem que o princípio da solidariedade garante a cada indivíduo que as compõem. Esteconceito foi exaustivamente
exposto por Piotr
Kropotkin, em sua famosa obra "Mutualismo: Um Fator de Evolução". Da mesma
forma, acreditam que a solidariedade é a principal defesa dos indivíduos contra
o poder coercitivo do Estado e do Capital.
Mas, para que a solidariedade se torne uma
virtude "de fato" é necessária a erradicação de qualquer fator de
segregação ou discriminação humanas. Com esse objetivo, o internacionalismo se
firma enquanto o princípio proeminente da integração sociolibertária.
Internacionalismo
Para os anarquistas, todo tipo de divisão da
sociedade - em todos os aspectos - que não possua uma funcionalidade plena no
campo humano deve ser completamente descartada, seja pelos antagonismos
infundados que ela gera, seja pela burocracia contraproducente que ela encarna na
organização social, esterilizando-a. Logo, a ideia de "pátria" é
negada pelos anarquistas.
Os libertários acreditam que as virtudes -
bem como o exercer pleno delas - não devem possuir "fronteiras".
Assim, acreditam que a natureza humana é a mesma em qualquer lugar do mundo,
exigindo, independentemente do universo material ou cultural onde o ente humano
esteja inserido , uma gama infinita de necessidades e cuidados. Em outras
palavras: se a fragilidade do homem não tem fronteiras, por que estabelecer empecilhos
ao seu auxílio?
Vale lembrar que o conceito libertário de
internacionalismo se difere completamente do conceito que conhecemos -
portanto, capitalista - de globalização. Globalização é a ampliação a nível
mundial da difusão de produtos - ideológicos, culturais e materiais - de
determinados segmentos capitalistas, visando à potencialização máxima da
capacidade mercadológica dos agentes operantes - na maioria das vezes, as
empresas e as grandes corporações -, sendo, para isso, desconsideradas parcial ou
completamente todas as conseqüências humanas do processo, já que é a doutrina
do "lucro máximo" que rege essas operações. Por outro lado, o
internacionalismo, por se alijar completamente de todo o ideário capitalista,
não possui nenhuma tenção lucrativa, capitalista, e não é permeado por
estruturas privilegiadas de produção - como as indústrias capitalistas -, sendo
regido pela solidariedade e mutualismo máximos.
Didaticamente, o internacionalismo pode ser
definido como sendo a difusão global de "serviços" humanos, e a
globalização como a difusão global de "hegemonias" mercadológicas.
]Virtuosidade
da revolta
A revolta - na noção anarquista, a força
"humano-social", a oposição enérgica e incisiva contra qualquer forma
de autoridade material ou abstrata - é marginalizada tanto no historicismo, nas
compreensões da realidade baseadas em experiências passadas, quanto na sua
operação no contexto subjetivo, da função dela na vida do indivíduo. Por ser
uma força temida, quase sempre hermética e combatida em quaisquer culturas, a
revolta é considerada e difundida como uma expressão artificial do ser humano,
suscitada por fatos, por situações externas ao ser. Nesse sentido, segundo os
teóricos libertários, uma das maiores características dos anarquistas é a
compreensão da revolta enquanto um substrato humano, enquanto uma virtude
absolutamente natural e efetivamente produtiva nos desenvolvimentos humano e
social. Em outras palavras, para os anarquistas, a revolta é, assim como o
amor, o afeto, a paz, a harmonia e a sabedoria, uma força imanente à própria
mente humana. Para eles, o que define a efetividade da revolta é a forma como
ela ultrapassa a sua condição abstrata, na mente de cada um, para se consolidar
em ações, em transformação social.
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